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Linguagem neutra: o que é, exemplos, problemas e soluções

Imagem com fundo roxo, a esquerda um boneco rosa e a direita um boneco azul, representando o lado masculino e feminino, ao centro um mão selecionando a zona neutra, representando a linguagem neutra sem distinção de gênero.

A linguagem é muito importante para a nossa cultura, pois é uma das diversas maneiras de expressão de uma sociedade. Nesse contexto, e tendo em mente que é fundamental pensar na representatividade de todas as pessoas através dela, atualmente estamos enfrentando um dilema: a linguagem neutra de gênero e sua relação com a acessibilidade.

Assim como o debate sobre a representatividade na língua é novo, a sua relação com a acessibilidade também é. Por isso, vamos discutir sobre alguns aspectos em torno dessa questão. Além disso, também vamos apresentar maneiras para que você possa alcançar esses dois objetivos: comunicar de forma inclusiva e acessível!

Vamos lá?

O que significa linguagem neutra?

A linguagem neutra, também pode ser conhecida como linguagem inclusiva. Ela tem o objetivo de evitar a exclusão de pessoas com base em sua identidade de gênero, sexualidade, ou outros aspectos de identidade.

Ela se baseia na utilização de palavras e termos mais inclusivos, principalmente na escrita, visando que todas as pessoas sejam tratadas de forma respeitosa e igualitária. Por exemplo, ao invés de usar pronomes de gênero binário, como “ele/ela”, na linguagem neutra, substituímos por “elu”, assim como “dele/dela” por “delu” não fazendo referência a um gênero específico.

Da mesma forma, evitamos palavras com conotações de gênero, como “homem” ou “mulher”, e usamos termos mais inclusivos, como “pessoa” ou “indivíduo”. Vamos dar alguns exemplos específicos um pouco a diante. 

Quem inventou a linguagem neutra?

Não se sabe exatamente se foi apenas uma pessoa específica, um grupo de pessoas, ou uma organização que “inventou” a linguagem neutra, pois seu uso tem sido praticado em diferentes culturas e idiomas há anos.

Porém, com a crescente conscientização sobre a diversidade e inclusão, com o reconhecimento da diversidade de identidades de gênero e a luta por direitos das pessoas da comunidade LGBTQIA+ e feministas, o movimento da linguagem neutra também ganhou mais visibilidade nos últimos anos

Isso é resultado do trabalho de muitas pessoas e organizações do mundo todo para considerar a linguagem neutra em materiais educativos e outros documentos importantes, incluindo certidões de nascimento, políticas governamentais etc. 

Quais os exemplos de linguagem neutra?

Agora vamos aos exemplos práticos do uso da linguagem neutra para você usar e evitar a exclusão dessas pessoas:

Além dos pronomes neutros que mencionamos anteriormente (elu/delu), também existem:

  • Substantivos e adjetivos neutros: palavras com conotações de gênero, como “homem” ou “mulher”, podemos substituir por “pessoa” ou “indivíduo”. Por exemplo: “todos estão convidados”, pode ser substituído por “todas as pessoas estão convidadas”.
  • Formas neutras de tratamento: podemos evitar usar formas de tratamento que definem um gênero exclusivo, como “prezado” ou “prezada”, que podemos substituir para “prezade”. 

Vale destacar que não existe um único jeito de usar a linguagem neutra, isso pode variar de acordo com o contexto e as preferências individuais.

Linguagem neutra no Brasil

Com o avanço dos canais de comunicação e mídia no Brasil, a discussão sobre linguagem neutra vem ganhando mais presença, principalmente em contextos sobre diversidade, inclusão e igualdade de gênero. Porém as opiniões a respeito deste assunto não são unânimes! 

A secretaria de comunicação do governo federal brasileiro lançou em 2014, um guia de comunicação com recomendações para o uso de linguagem neutra em documentos oficiais. Nele, oficializaram a recomendação do uso de pronomes neutros, como “elu” e “delu”, e de substantivos e adjetivos neutros, como “pessoa” e “indivíduo”, buscando evitar a exclusão de gêneros não-binários.

Porém, por todo o país, ainda existem muitas críticas a respeito do assunto e ainda há muita resistência. Mesmo assim, esse debate continua crescendo e a linguagem neutra é uma das ferramentas que pode ser utilizada para promover valores de inclusão.

Linguagem neutra no STF

O STF (Supremo Tribunal Federal) do Brasil tem adotado medidas para incluir a linguagem neutra em documentos oficiais. Em 2021, foram emitidas recomendações e normas sobre o uso de pronomes neutros nos documentos oficiais da Corte. A norma sugere o uso de pronomes neutros e outras formas inclusivas de se referir a pessoas com identidades de gênero não-binárias, como “pessoas travestis, transexuais e não-binárias”.

Essa iniciativa é vista como um avanço na inclusão e no tratamento com igualdade de gênero e também é esperado que influencie outras instituições públicas e privadas a adotar medidas semelhantes. Mas ainda há controvérsias e é um assunto que divide o país!

Onde houve a proibição da linguagem neutra?

Alguns estados brasileiros ainda são mais resistentes do que outros para a implementação da linguagem neutra. Os estados que estão tentando vetar a continuidade dessas demandas são:

  • Paraná: em janeiro de 2023, foi sancionada uma lei que proíbe a aplicação de linguagem neutra em escolas estaduais, editais, currículos escolares, concursos públicos e em comunicações do governo do estado.
  • Rondônia: entrou em vigor em 2021 uma lei que proibia a linguagem neutra na grade curricular e no material de ensino público e privado, além de em editais de concursos públicos. Porém, agora essa decisão foi barrada pelo STF.
  • Santa Catarina: Um decreto estadual de 2021, que está em vigor, proíbe o uso dessa linguagem na redação de documentos oficiais e nas instituições de ensino ou dentro de sala de aula.
  • Manaus: a prefeitura de Manaus decretou a lei em abril de 2022, que proíbe a utilização da linguagem neutra no ensino da matéria da Língua Portuguesa nas escolas.
  • Porto Alegre: foi sancionada uma lei em junho de 2022, que proíbe o uso da linguagem neutra em escolas e na administração pública.

Como podemos notar, mesmo em grandes centros ou estados super desenvolvidos o uso da linguagem neutra é algo que não agrada a todas as pessoas.

Quais os problemas com a linguagem neutra?

Apesar da linguagem neutra ser uma solução incrível para a igualdade de gênero e inclusão das pessoas transexuais e não-binárias, ela pode ser difícil de  ser compreendidar por algumas pessoas, como as com deficiência intelectual ou que usam tecnologias assistivas para navegar na web. Mas aqui também não existe um consenso. 

Acessibilidade e o uso da linguagem neutra de gênero com E ou U

Como explicamos anteriormente, uma alternativa para promover uma comunicação neutra, é trocar as vogais “a” e “o”, dos finais das palavras que determinam gênero, pelas vogais neutras “e” ou “u”

Por exemplo, as palavras “todos” e “eles” seriam usadas apenas para aqueles que se identificam com o sexo masculino. E em uma comunicação sem usar o gênero para transmitir a informação, seriam trocadas por “todes” e “elus”, se referenciando à todas as pessoas.

Apesar de inclusivo para a comunidade LGBTQIA+ e feminista, são levantas especulações relacionadas à acessibilidade para às tecnologias assistivas e pessoas com deficiências. 

Porém há quem diga e teste que nesse formato é sim possível entender o texto de qualquer forma usando leitores de tela, uma ferramenta de acessibilidade, que auxilia a navegação de pessoas cegas e com baixa visão. 

Então, a utilização do “e” e “u” acaba não sendo uma solução 100% inclusiva, já que há opiniões contrárias sobre a acessibilidade, mas também não é completamente inacessível.

Acessibilidade e o uso da linguagem neutra de gênero com @ e X

A utilização de símbolos e letras como o @ e/ou X é limitadora e prejudica a acessibilidade. Isso acontece porque o @ e o X não apresentam som em todas as palavras, então essa “solução” é ruim para as tecnologias assistivas, como os leitores de tela. Nem tão pouco é acessível para as pessoas com dislexia, ou com deficiências intelectuais. 

Dessa maneira, a linguagem neutra perde o sentido, se tornando exclusiva e consolidando mais uma barreira para a acessibilidade.

Quais os recursos linguísticos indicados?

Buscando garantir uma comunicação inclusiva e acessível para as pessoas com deficiência e suas tecnologias assistivas, algumas dicas são: 

  • Evitar o uso de pronomes de gênero específico, como “ele” ou “ela”.
  • Utilizar substantivos de gênero neutro sempre que possível. Por exemplo, em vez de “o gestor” ou “a gestora”, usamos “a pessoa gestora”.
  • Evitar adjetivos que descrevem características de gênero. Por exemplo, “a aluna dedicada “, podemos substituir por “a pessoa estudante dedicada”.
  • Substituir o “o” e o “a” de palavras como “todos” e “amigas”, por “todes” e “amigues”.

Vale lembrar que esse formato não é completamente acessível para todas as pessoas, mas é melhor do que usar “X” ou “@” para substituí-los.

Conclusão

A linguagem neutra é uma forma de se comunicar de maneira inclusiva, garantindo o respeito e igualdade para todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero. Porém, para que ela seja de fato inclusiva para todas as pessoas, é necessário pensarmos se ela está acessível às pessoas com deficiência, caso contrário, ela acaba não sendo tão inclusiva assim, não é mesmo?

O debate sobre a linguagem neutra é só um pequeno pilar quando falamos de diversidade e inclusão, se quer saber mais sobre o assunto, visite o nosso blog ou faça o download gratuito do nosso e-Book!

Fundo azul. Do lado esquerdo , o mockup do ebook. No centro e do lado direito, está escrito

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