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A educação profissional dos surdos: uma conversa com Susana Penteado do Cepro Selur

Microfone desenhado no centro. Acima lê-se "Hand Talk" e abaixo "Entrevista". Por trás do microfone há o logo das Faculdades Rio Branco. O fundo da imagem é marrom.

De acordo com o IBGE, 68% das pessoas com deficiência possuem um baixo nível de escolaridade. A falta de adaptação das escolas e universidades dificulta o acesso à educação e faz com que muita gente abandone os estudos. Mas nem todas as instituições de ensino são assim. Caminhando no sentido oposto, o Centro Profissionalizante Rio Branco (Cepro) trabalha para melhorar a empregabilidade das pessoas com deficiência, oferecendo cursos profissionalizantes voltados a elas.

O Programa de Qualificação Profissional para Surdos e Pessoas com Deficiência Física, também conhecido como Cepro SELUR, é um dos maiores exemplos nacionais de educação profissional para pessoas com deficiência. A gente conversou com a Susana Penteado, Diretora de Unidade Sócio-educacional e responsável por toda a unidade do Cepro, sobre a origem do programa, seu funcionamento e o impacto que causou na vida dos alunos.

Dá uma olhada!

Fundo bege. Na esquerda, um círculo preto com livros e um capelo. Abaixo, está escrito em branco "educação". No meio, lê-se o texto em branco "Ebook gratuito. Acessibilidade em universidades para se adaptar a Lei Brasileira de Inclusão!". No canto direito, um quadrado verde limão onde lê-se "baixe o ebook grátis".


Hand Talk: Como surgiu o Cepro SELUR e como funciona atualmente?

Susana Penteado: O Cepro SELUR surgiu em dezembro de 2008, em uma parceria. Essa parceria foi feita pela Fundação de Rotarianos de São Paulo – mantenedora do Centro Profissionalizante Rio Branco – o Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana (SELUR) e o Rotary Club. O sindicato enfrentava dificuldades com o ministério do trabalho no cumprimento da Lei de Cotas [para pessoas com deficiência]. Por ser uma atividade de limpeza urbana, um pouco especial em relação aos cargos – que são mais de motoristas e coletores – eles não tinham como encaixar as pessoas com deficiência, então, firmou-se um pacto entre o SELUR e o Ministério do Trabalho. Este exigiu do SELUR que, em vez de empregar, ele qualificaria as pessoas com deficiência. Para isso, era preciso uma instituição que as qualificasse, e foi aí que surgiu a nossa parceria. Quem fez o vínculo entre a Fundação de Rotarianos de São Paulo e o SELUR foi um rotariano, que é secretário do conselho comunitário da nossa fundação. Desde dezembro de 2008 assinamos essa parceria visando qualificar pessoas com deficiência física e surdos.

Atualmente, o programa funciona da seguinte forma: nós selecionamos, da comunidade, pessoas com deficiência física ou surdas a partir de 16 anos com escolaridade mínima da primeira fase do fundamental. Temos uma turma de surdos e uma turma de pessoas com deficiência física e reabilitados do INSS por semestre. São 20 surdos e 20 pessoas com deficiência física por turma. O perfil dessas pessoas é um perfil mais de pessoas adultas, que muitas vezes estão afastadas do mercado de trabalho por acidentes ou doenças e que nos procuram para se qualificar, se reintegrar ou se inserir no mercado de trabalho. No caso dos surdos, o perfil é de jovens de ensino médio, numa média de 16-17 anos e nosso curso é todo ministrado em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Esse curso possui 400 horas – o que significa que dura um semestre – de segunda à sexta, no período da tarde, das 14h às 18h. Os alunos começam em janeiro, terminam em julho, com 100 dias úteis de aulas.

HT: Qual é o maior desafio que o programa enfrenta?

SP: Penso que o maior desafio é captar as pessoas, trazer os alunos para o Cepro. A gente faz uma grande divulgação, mas ainda assim nem sempre conseguimos completar as turmas. A gente tem parceira com o INSS para trazer pessoas com deficiência física e reabilitadas e os surdos a gente busca no ensino médio. Nossa média é de 20 alunos por sala, mas às vezes temos turmas maiores ou menores, oscilando um pouco. E manter essas pessoas com deficiência também é difícil, principalmente as pessoas com deficiência física. Quando elas saem das suas casas para virem se qualificar, começam a pegar ônibus, a enfrentar as distâncias. Se a pessoa tem problemas físicos, às vezes eles tendem a se agravar pela própria dificuldade da mobilidade. Então mantê-las também é um desafio.

HT: Para você, quais são os principais resultados que o Cepro colhe com o projeto?

SP: É um projeto que gera uma enorme satisfação ao ver como os alunos chegam no primeiro dia no curso, principalmente os adultos. Chegam desanimados, com baixa auto-estima, crendo-se incapazes de fazer um programa, um curso, uma qualificação. Nosso curso se caracteriza muito pelo desenvolvimento de atividades de postura, de comportamento, mais do que habilidades técnicas, então a gente trabalha muito o fortalecimento da autoestima, os pré-requisitos para a entrada no mercado de trabalho, saber como se vestir, fazer uma simulação de entrevista, como ter uma boa adequação. Então, ao longo do curso, quando vai chegando mais para o final, a gente observa que essas pessoas mudam a postura, mudam o olhar, mudam o brilho. Se sentem muito mais empoderadas para enfrentar a vida lá fora e o mercado de trabalho. É uma formação para a vida mesmo, para o fortalecimento da pessoa para a vida.

HT: Como é o retorno dos alunos?

SP: Nós temos uma página no Facebook onde a gente posta todas as atividades realizadas no programa e lá dá pra ver a gratidão que os jovens surdos e os adultos têm por terem feito o curso. Eles estão sempre por perto: vêm, aparecem, vêm contar suas novidades. A gente observa que eles criam um vínculo muito grande com a equipe que cuida deles. O que a gente vê é que estamos formando uma comunidade de seguidores que é muito grata ao trabalho. Esse é o principal retorno. Além disso, há as histórias diferentes, casos de surdos que estão trabalhando, que ganharam experiência, ou pessoas com deficiência que foram inseridas nas próprias empresas do SELUR, então tem vários casos de sucesso!

São iniciativas como essas que fazem a gente ter esperança no mundo e entender que tem muita gente preocupada com a acessibilidade! Se você quiser saber mais sobre o projeto, dá para entrar em contato com o Cepro SELUR pelo site ou pelo telefone (11) 3879 3157 – das 12h30 às 17h30 😉

E você? Conhece alguma outra iniciativa bacana em relação a empregabilidade para surdos? Deixa para gente nos comentários!

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