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Dia da Consciência Negra: 14 frases racistas para parar de usar

Imagem de fundo preto e com a mão da maya nossa tradutora de Libras com o punho cerrado para cima, simbolizando a luta contra o racismo que o dia da consciência Negra reforça.

O Dia da Consciência Negra é uma homenagem em celebração a cultura preta, símbolo de resistência e luta contra a escravidão. Acontece em 20 de novembro, data que referencia a morte de um dos maiores nomes da nossa história nessa luta, Zumbi dos Palmares, marcando a importância de se discutir e agir ativamente contra o racismo, e as desigualdades sociais causadas por ele no Brasil. 

Apesar da abolição da escravatura ter sido assinada há 133 anos, a nossa sociedade continua perpetuando várias palavras e expressões que, em um primeiro momento, parecem inofensivas, mas carregam consigo elementos racistas enraizados. Elas reforçam a discriminação contra pessoas pretas, e tornam o preconceito contra a cor da pele algo natural e comum.

Racionalização do racismo na Língua Portuguesa

Para compreender a dimensão do racismo na língua portuguesa, é fundamental contextualizá-lo dentro do seu conceito estrutural. Ou seja, aos padrões sociais, institucionais e culturais que perpetuam desigualdades com base na raça. 

Na linguagem, essa estrutura se manifesta de maneiras aparentemente sutis, mas profundamente enraizadas, afinal, carregam consigo uma carga histórica de estereótipos e preconceitos.

Expressões que associam cor da pele a características negativas ou positivas, por exemplo, contribuem para a construção de narrativas discriminatórias. Além disso, a escolha de certas palavras pode reforçar hierarquias sociais, marginalizando grupos étnicos e restringindo o entendimento da diversidade cultural.

Neste contexto, a linguagem não é apenas um meio de expressão, é uma ferramenta que molda percepções e influencia comportamentos. 

14 exemplos de frases racistas

Com isso em mente, separamos algumas expressões que você pode estar reproduzindo no seu dia a dia, e provavelmente não sabe que são racistas, mas que devemos eliminar do vocabulário:

  • Deixar claro, esclarecer ou clarificar: traz a ideia de que apenas algo claro ou branco é bom ou faz sentido. Uma melhor opção é trocar esses termos por “deixar explicado”, “explicar” ou “informar”. 
  • Denegrir: é o oposto da expressão acima, implicando que tornar algo escuro ou negro é sinônimo de piora. Recomendamos não usar a cor como forma negativa e sim verbos como “manchar”, “infamar” ou “desacreditar”.
  • Lista negra, mercado negro ou ovelha negra: a palavra ‘negra’ é usada de maneira pejorativa para descrever algo ruim ou proibido. Substitua essas palavras e use a versão original como “lista de coisas odiadas”, “mercado de vendas ilegais” e “pessoa que não pertence ao grupo”.
  • A coisa tá preta: novamente, a palavra ‘preta’ traz uma conotação negativa para a situação. Evite associar coisas desagradáveis à cor preta e faça uso de expressões como “a coisa não está legal” ou “a coisa está ruim”. 
  • Serviço de preto: indica uma tarefa mal feita, mais uma vez associando a palavra ‘preto’ com algo inferior. Novamente o melhor é não relacionar algo ruim a cor preta, sugerimos “serviço mal feito”.
  • Inveja branca: ao contrário das expressões anteriores, usar a palavra ‘branca’ como adjetivo representa algo do bem. A cor não implica se é bom ou ruim, então para isso use “inveja boa”.
  • Cor de pele: tendemos a associar a cor bege ao tom de pele “certo”, inferiorizando a cor da pele negra. Existem muitos tons de pele diferentes, por isso, seja ao usar um lápis de cor, comprar meias ou roupas íntimas, use a cor definida do item, “marrom”, “bege”, etc.
  • Da cor do pecado: termo que contribui para a sexualização do corpo negro, remetendo a ideia de que a pele preta está associada ao pecado, e a branca a pureza. Nesse caso, se for para “elogiar” apenas diga que a “pessoa é linda”.
  • Mulata: na época da escravidão, mulheres negras serem abusadas por seus patrões brancos era algo comum, e os filhos que nasciam dessas relações eram chamados de mulatos. O termo originalmente se refere às mulas, que nascem do cruzamento entre um jumento e uma égua. Existe uma discussão por conta dessa específica palavra, pois é muito utilizada, ainda hoje, para denominar pessoas pretas não retintas. Ainda assim, sugerimos evitar usá-la por possuir uma alta carga histórica e pejorativa.
  • Negra de traços finos: reforça o padrão ideal de beleza branco, com a ideia de o que deve ser valorizado na pessoa negra são os traços que se aproximam aos de uma pessoa branca. Novamente recomendamos que se for para elogiar, apenas diga que “a pessoa é linda”.
  • Cabelo ruim ou cabelo duro: deprecia o cabelo afro, muitas vezes usado como símbolo da luta antirracista. Existem diversas formas e texturas de cabelo no mundo, não existe bom ou ruim. Precisamos valorizar as tantas diferenças que temos e que enriquecem nossa cultura.
  • Não sou tuas nega: reproduz a ideia de que mulheres negras são inferiores, e não são dignas de respeito. Troque a expressão por algo como “perceba como está falando comigo”.
  • Feito nas coxas: na época da escravidão as telhas eram feitas de argila, e moldadas nas coxas dos escravos. Por conta da grande variedade de portes físicos, as telhas ficavam desiguais, associando o trabalho dos pretos a um serviço ruim. Troque o termo por “mal feito” apenas.
  • Meia-tigela: associado a algo de baixa qualidade. O termo tem origem na época em que os negros trabalhavam forçadamente nas minas, e quando não alcançavam sua meta do dia, recebiam apenas meia tigela de comida. Para eliminar esse termo para sempre, use expressões como “sem valor”.

Atitudes também têm muito a dizer

O que acha de aproveitar esse espaço de conhecimento para repensar também alguns comportamentos. Uma mudança significativa começa com atitudes conscientes e ações alinhadas aos princípios de igualdade, respeito e inclusão. Por isso:

  • Não assuma que pessoas negras estão em posições por cotas. Valorize-as por suas conquistas, habilidades e qualificações.
  • Não espere que pessoas negras eduquem sobre racismo. Busque conhecimento por conta própria.
  • Reconheça práticas, celebrações, religiões de matriz africana e outras tradições culturais importantes. Ignorá-las é uma forma de exclusão.
  • Saiba como se posicionar. Muitas pessoas adotam um discurso de “Eu não vejo cor” na tentativa de promover a inclusão, mas essa frase minimiza as experiências e identidades específicas das pessoas pretas e outros grupos étnicos, negando a importância da diversidade racial.
  • “Você é bonito para um negro” não é elogio! Esse tipo de ideia sugere que a beleza de uma pessoa negra é uma exceção à regra, ignorando a riqueza da diversidade de padrões de beleza. O mesmo vale para dizer que alguém é articulado ou inteligente.

Fundo azul. Do lado esquerdo , o mockup do ebook. No centro e do lado direito, está escrito

Como acontece o racismo na comunidade surda?

Sabemos que no Brasil temos mais de 2,3 milhões de pessoas surdas e com deficiência auditiva. Dentre elas, muitas são negras (pretas e pardas), e em sua maioria dependem da Libras (Língua Brasileira de Sinais) para se comunicar.

Mesmo que hoje já se debata muito sobre a educação bilíngue e seus benefícios para a população surda, ainda estamos muito longe do modelo ideal. Em um contexto em que a maioria das escolas continua impondo o português como primeira língua, apesar de as pessoas surdas terem a Libras como principal idioma de comunicação, é necessária uma movimentação mais eficiente e intensa na luta pela educação da comunidade surda.

A demora na aplicação de uma educação bilíngue eficiente, além de causar implicações linguísticas, afeta especialmente as pessoas negras surdas. Por conta dessas práticas educacionais atuais, esse grupo acaba atrasando seu processo de reconhecimento e pertencimento racial e étnico.

Datas como o Dia da Consciência Negra são essenciais para promover a justiça racial. As discussões sobre o assunto ganham evidência, ajudando a sociedade a compreender a discriminação presente por trás de muitas das falas e atitudes racistas que temos no dia a dia. 

A informação é a melhor arma que temos, dessa forma, mesmo pessoas que não fazem parte desse grupo, podem apoiar nessa luta tão importante. Não só nesse dia, mas no ano todo. Afinal, não basta não ser racista, é necessário sermos antirracistas.

Quer aprender mais sobre o universo da diversidade e inclusão? Então continue nos acompanhando aqui no Blog da Hand Talk!

 

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